domingo, 7 de outubro de 2007

Profissão Modelo


Não é fácil ser modelo
O mercado de moda cresceu nos últimos anos. Mas isso não quer dizer que o caminho para o sucesso na profissão seja simples

A mineira Liliane em Nova York e numa campanha: revelada em concurso aos 14 anos
A menina é um fenômeno. Com 15 anos, pouco mais de um dedicado à profissão, a brasileira Liliane Ferrarezi figura entre as vinte modelos mais importantes do mundo. Seu rosto adolescente já ilustrou editoriais nas principais revistas de moda e campanhas de grifes como a francesa Hermès, a americana Gap e a italiana Miu Miu. Antes que alguém pudesse dizer "Gisele Bündchen", a mineirinha já havia trocado a Pampulha por Nova York... Liliane simboliza uma nova realidade. Nos últimos anos, o mercado da moda cresceu e se profissionalizou no Brasil. Paralelamente, o sucesso de Gisele e de outras beldades daqui fez com que o país se firmasse no mapa das grandes agências internacionais, o que ampliou as oportunidades para as meninas brasileiras. Mas atenção: o fato de as oportunidades serem maiores não significa que o caminho se tornou mais fácil. A concorrência é brava, e há uma série de requisitos que separam a menina sonhadora da modelo em potencial.
O primeiro requisito é o biotipo: o corpo tem de ser magro e longilíneo. Já foi pior. Hoje ninguém mais confere se uma menina se encaixa na fórmula 90-60-90 – as medidas de busto, cintura e quadris que costumavam ser consideradas ideais – nem a descarta por causa de algum traço mais exótico. Também ruiu a ditadura dos "padrões de beleza", que obrigava a modelo a mudar a cor do cabelo ou as formas do corpo para se adaptar às fantasias dos estilistas e produtores de moda. Aprendeu-se a valorizar a diversidade. Ainda assim, é imprescindível que a candidata a modelo seja alta e magra. Quem não tem mais de 1,70 metro ou encontra dificuldade para manter o peso deve pensar duas vezes antes de lutar por um espaço na carreira, para evitar sofrimento e frustrações.
É essencial que a candidata a modelo seja perseverante e tenha firmeza para encarar privações. No começo, os trabalhos são raros, o dinheiro é curto e a saudade de casa aperta. São Paulo é a plataforma de lançamento para uma carreira, e quem não nasceu na cidade terá de mudar-se para ela, provavelmente dividindo apartamento com uma porção de desconhecidas, contratadas pela mesma agência. Se a carreira deslancha, é hora de transferir-se para o exterior – e quase todas as garotas nessa situação gastam um bom dinheiro em telefonemas para o Brasil e em outras maneiras de afastar a solidão. A empresária e consultora de moda Costanza Pascolato indica a arma com que as modelos brasileiras têm conseguido se dar bem: uma qualidade que ela batizou de "ginga psicológica". "É essa capacidade de rir de si mesma, essa leveza de espírito que contrasta com a rigidez de caráter das americanas e européias", escreve Costanza no livro Como Ser uma Modelo de Sucesso. Mas não é fácil manter essa ginga, ainda que as agências hoje em dia proporcionem alguma ajuda para as novatas. "Quem não tem estrutura nem apoio da família não agüenta", diz a psicóloga Miriam Tawil, que acompanha modelos em adaptação.
Até recentemente, havia duas formas comuns de dar o primeiro passo no mundinho das modelos: as candidatas eram descobertas por olheiros nas ruas e nos shopping centers ou faziam álbuns de fotografias – os famosos books – que enviavam às agências. Hoje, esses métodos perderam importância. A principal porta de entrada são os concursos. A preferência por esse tipo de seleção se explica de maneira simples: ele alcança mais meninas, saídas de todo o Brasil. "O celeiro está em todo lugar", diz Eli Hadid, diretor da agência Mega. Liliane Ferrarezi, por exemplo, foi descoberta num evento desses, promovido em 2002 pela agência Ford. Em julho, estarão abertas as inscrições para o maior concurso do país, o Tic Tac Mega Models. Os organizadores esperam atingir a marca de 1 milhão de participantes, vindas de 850 cidades. Quem se encaixa no biotipo necessário, e se sente preparada para enfrentar a pressão, só precisa apresentar duas fotos, de rosto e de corpo inteiro.

O bê-á-bá para as novatas do ramo

Oito fatos que todas as aspirantes a modelo devem saber
1. A melhor maneira de entrar no mundo das modelos são os concursos promovidos pelas grandes agências. Inscrever-se em um deles é mais eficiente que bater de porta em porta.
2. Algumas agências de renome, como a Marilyn, ainda trabalham com olheiros (chamados scouters), que fazem buscas em shoppings, praias e parques. Esse tipo de profissional tem de ter um cartão de apresentação. É a garantia de que não se trata de um engodo.
3. O biotipo das modelos continua rígido. A altura deve passar de 1,70 metro, o corpo tem de ser magro e longilíneo. A boa notícia é que estilo, personalidade e atitude passaram a contar tanto quanto os padrões de beleza.
4. Nem só de gaúchas vive o mundo das modelos. Brasileiras de todas as regiões têm chances iguais. Basta lembrar que, entre as supermodelos, Caroline Ribeiro é paraense, Fernanda Tavares é potiguar e Adriana Lima, baiana.
5. Nem sempre a modelo está pronta para a profissão. O tempo de maturação de uma new face (recém-chegada) é de cerca de dois anos. Durante esse período, os trabalhos são raros, o dinheiro falta e a solidão é grande. Para encarar, é preciso persistência.
6. Ao contrário do senso comum, a candidata não precisa de um book (conjunto de fotos) enquanto está buscando espaço em agências e concursos. Bastam duas fotos: de corpo e de rosto. Quanto mais natural, melhor.
7. Modelo com mãe a tiracolo tornou-se raridade. Com a profissionalização avançada da carreira, a principal conselheira e amiga da modelo hoje é a agência. As mães acompanham apenas as primeiras viagens das filhas. Depois, é cada uma por si.
8. Mesmo entre as finalistas dos concursos, só uma em cinco realmente "acontece", ou seja, consegue ganhar a vida como modelo. A sorte pode ser determinante. Assim como a simpatia de um cliente ou de um editor de moda.